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Seguros paramétricos na América Latina

Sunset view of coffee crop

Os seguros paramétricos estão ganhando impulso na América Latina graças a melhorias no ambiente regulatório e como consequência da restrição de capacidade para riscos de catástrofes naturais no mercado global, de acordo com especialistas.

Corretores e seguradoras têm observado um aumento de interesse por parte de clientes públicos e privados por este tipo de cobertura, embora ainda existam obstáculos que limitam a expansão dos produtos baseados em índices.

Países como a Colômbia e o Chile deram passos decisivos neste ano para regular a oferta de produtos paramétricos em seus mercados. O objetivo dos legisladores nos dois países foi mitigar os temores do mercado segurador com relação à validade das coberturas.

Em maio, o governo da Colômbia aprovou um novo Plano Nacional de Desenvolvimento que, em seu artigo 241, introduziu novas regras para as coberturas paramétricas no país.

A mudança mais importante estabeleceu que os sinistros podem ser pagos com base apenas no cumprimento de determinados parâmetros contratados entre as partes. Tal medida eliminou a necessidade de que uma perda real tivesse ocorrido para que a cobertura fosse acionada, uma exigência que causava insegurança entre os subscritores de seguros.

A Lei 2294 também determina que, a partir de agora, coberturas paramétricas podem ser oferecidas a qualquer tipo de risco. Até então, apenas apólices de seguro agrícola podiam ser vendidas com base nessa metodologia.

No Chile, o governo aprovou em fevereiro uma lei de Fintechs que busca promover a inovação no setor financeiro. A lei também dirime dúvidas que existiam no mercado chileno com respeito aos seguros paramétricos.

Da mesma maneira, a principal mudança introduzida pela Lei 21521 é o conceito de que os sinistros podem ser pagos ainda que os ativos protegidos não sofram dano material, desde que parâmetros pré-estabelecidos sejam atingidos.

Mas a lei também prevê que os ativos segurados necessitam estar sob um risco real de danos físicos e proíbe que métodos paramétricos sejam utilizados para planos de pensão, seguros obrigatórios e coberturas criadas para ajudar o desenvolvimento de atividades econômicas específicas.

As mudanças foram bem recebidas pelo mercado, que pressiona outros governos para seguir um caminho parecido. Mas nem sempre esse é o caso, e a disponibilidade de regras para os seguros paramétricos é desigual na região. Países como a Argentina seguem sendo jurisdições complicadas para o segmento, enquanto que o Brasil tem mostrado iniciativa em apoiar inovações na área, mesmo que ainda não exista uma regulação específica no país.

“A aprovação de novas regras pela Colômbia é muito animadora, enquanto a Argentina tem reavaliado sua postura anterior de aprovar o uso de seguros paramétricos,” afirma Julian M. Roberts, diretor de Soluções Alternativas de Transferência de Riscos na WTW. “Creio que os reguladores estão pouco a pouco começando a valorizar o seguro paramétrico.”

Com regras mais favoráveis, as seguradoras creem que os seguros paramétricos podem ir além das coberturas agrícolas que têm sido seu mais comum ramo de utilização. Desta forma, podem ajudar a melhorar a penetração de seguros na região.

Corretores estimam que a capacidade do mercado tradicional de resseguros para riscos de catástrofes naturais caiu entre 20% e 30% na América Latina nos últimos meses, ao mesmo tempo que limites foram achatados e franquias aumentaram significativamente.

Como resultado desses fatores, os compradores de seguros estão cada vez mais estudando a possibilidade de usar coberturas paramétricas para cumprir as exigências de franquias das seguradoras, ademais de compor as camadas mais altas, ou excesso de perda, de programas de maior tamanho.

Dessa maneira, a prudência mostrada pelo mercado tradicional de seguros de propriedade tem criado oportunidades para subscritores focados nos paramétricos. É o caso da francesa Descartes Underwriting, que no ano passado criou um escritório em Madri para atender clientes na América Latina.

“Às vezes substituímos 100% da capacidade tradicional, mas na maioria das vezes nós a complementamos,” afirma Raúl Revilla, o responsável pela região na Descartes Underwriting.

Segundo Revilla, os compradores latino-americanos estão cada vez mais comprando e realizando consultas sobre produtos paramétricos para transferir riscos de ciclones e furacões, já que a capacidade disponível para ambos caiu bastante desde o Furacão Ian, em setembro de 2022.

Grandes companhias em áreas expostas a furacões também têm mostrado mais interesses por coberturas que podem lhes ajudar a mitigar o risco de lucro cessante. Revilla menciona o setor hoteleiro no Caribe e no México como exemplos.

“O lucro cessante sem dano material está destinado a ter um forte crescimento na América Latina na medida em que gerentes de seguros e diretores financeiros se acostumem aos paramétricos e queiram saber mais sobre seu potencial,” diz Revilla.

As coberturas de terremoto também são um mercado promissor, acredita ele. Se esse for mesmo o caso, seguiria a tendência marcada pelos governos do México e do Chile, entre outros países, que têm em vigor programas de seguros paramétricos contra tremores.

Revilla também vê espaço para crescimento em riscos catastróficos secundários, como incêndios florestais e enchentes.

No entanto, além da regulamentação, um desafio para o desenvolvimento dos seguros paramétricos é uma certa escassez de dados coletados em tempo real sobre os riscos a serem segurados. Também faltam séries históricas sobre perdas em várias partes da região, o que é necessário para as seguradoras desenvolverem seus modelos de risco.

No momento, as seguradoras se sentem mais cômodas oferecendo coberturas para riscos cuja intensidade pode ser medida com dados gerados por órgãos multilaterais ou por agências de governos nos Estados Unidos e na Europa. Os terremotos e os furacões são exemplos típicos.

Algumas empresas negociam com clientes de grande parte a instalação de seus próprios sensores nas áreas a serem seguradas, mas isso segue sendo um trabalho incipiente. Também é especialmente difícil seguir este caminho com pequenos agricultores e outros potenciais compradores de seguros.

Portanto, o aumento da penetração dos seguros paramétricos exigirá que o mercado encontre fontes alternativas de dados, e algumas experiências têm se mostrado promissoras nesse sentido.

“O que a gente tem avaliado, e o que deixa o mercado de resseguros também mais confortável, é a utilização de dados de imagem de satélite. Por exemplo, dados fornecidos pela NASA,” diz Thamirys Chaves, especialista em Seguro Agrícola na Newe Seguros, em São Paulo. “Temos estruturado o seguro paramétrico não só para o ramo agro, mas olhando também para desastres naturais.”

A Newe está desenvolvendo uma cobertura de seguro contra enchentes baseada em índices com o objetivo de oferecê-las a governos municipais no Brasil, onde várias cidades foram atingidas por fortes inundações em anos recentes.

Dados coletados por satélites também podem se mostrar úteis para aumentar a proteção contra as secas, geadas e outros riscos catastróficos secundários que têm causado estragos na região.

“É bastante simples medir a temperatura, e sabemos que, se a temperatura for baixa demais, alguns tipos de cultivos não irão dar fruto. O mesmo se aplica aos níveis da água. Algumas coberturas inovadoras são acionadas pelo nível de humidade do solo,” diz Rubem Hofliger, o diretor de Soluções para o Setor Público na América Latina na Swiss Re.

Outra dificuldade enfrentada pelo segmento é que várias das coberturas que podem ser desenvolvidas para atender populações vulneráveis dependem de subsídios governamentais. O seguro agrícola é um desses casos, a estratégias de gestão de desastres naturais a nível municipal muitas vezes dependem de disposições orçamentárias de governos regionais ou federais. Como os diversos níveis de governo latino-americanos costumam ter orçamentos apertados, investimentos na prevenção de tragédias naturais só tendem a ser feitos depois que uma catástrofe acontece.

“O principal obstáculo é a falta de conscientização sobre a importância de se proteger contra riscos catastróficos,” diz Hofliger. “E as prioridades de gasto público com frequência fazem que seja difícil que a compra de coberturas de seguro possa competir com gastos em programas sociais e de desenvolvimento, por exemplo.”

No entanto, com as perdas decorrentes de catástrofes naturais em alta, e milhões de pessoas vivendo em áreas expostas a desastres, os seguros paramétricos podem vir a ser uma solução para governos que têm poucos recursos para bancar gastos de reconstrução e de ajuda às vítimas. O setor privado também pode pedir cada vez mais coberturas paramétricas, se as condições do mercado de propriedade continuarem duras no longo prazo.

“A transição para os seguros paramétricos já está acontecendo, e está ganhando velocidade,” diz Revilla. “Mas temos que lembrar que se trata de um processo bastante disruptivo. Às vezes nós temos que começar com um líder de mercado em uma determinada área para que outros compradores sigam o seu exemplo.”

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