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O mercado de seguros no Peru

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A acumulação de incertezas políticas e econômicas frearam a performance do mercado de seguros no Peru em 2022, apesar de que o setor está fazendo esforços para aumentar os níveis de proteção, que seguem abaixo da média na América Latina.

O Peru está vivendo meses de instabilidade política interna, e o cenário externo tampouco está ajudando. Além disso, altos níveis de inflação e o aumento das taxas de juros fazem com que seja mais difícil para as empresas seguradoras imaginar um cenário mais favorável neste ano. Há esperanças, porém, de que a situação melhore em 2024.

“Não só o mercado de seguros, mas também a economia peruana viveram um ciclo de crescimento acelerado que se interrompeu nos últimos anos,” diz o presidente da Associação Peruana das Empresas de Seguros (Apeseg), Eduardo Moron. “A gente ouve falar de uma suposta separação entre os âmbitos políticos e econômicos, mas está claro que isso não existe.”

O Peru tem sido abalado por uma onda de protestos desde o começo de dezembro, quando o presidente Pedro Castillo foi deposto após tentar dissolver o Congresso, no que foi descrito por críticos como uma tentativa de golpe de Estado.

Nas semanas seguintes, milhões de peruanos tomaram as ruas para protestar contra o afastamento de Castillo, fechando estradas e interrompendo as operações de empresas em setores como a mineração e energia. As forças de segurança comandadas pela nova presidente, Dina Boluarte, reprimiram os processo ao custo de pelo menos 48 mortes.

Não que instabilidade política seja algo novo no Peru. Boluarte é a sexta presidente do país desde 2016, e vários de seus antecessores tiveram que deixar o cargo em meio a distúrbios sociais e conflitos com o Congresso.

Mas a instabilidade está afetando a performance da economia peruana, que deve crescer muito pouco ou nada no primeiro trimestre. Segundo a associação de exportadores Conmex Perú, a economia já estava se desacelerando antes mesmos dos protestos e fechou o ano de 2022 com um crescimento do PIB de 2,7%. Trata-se de um ritmo de expansão que mal chega à metade da média observada no país nos dez anos anteriores da pandemia de Covid-19.

A falta de estabilidade não está poupando o mercado de seguros. De acordo com a Apeseg, o volume de prêmios no país caiu 1,2% em termos reais em 2022, uma vez descontado o impacto da inflação. A penetração dos seguros praticamente não variou nos últimos dois anos, mantendo-se em modestos 2,05% do PIB. Já os prêmios per capita não passaram de $145 no ano passado, uma pequena queda na comparação com anos anteriores.

Na visão de Moron, parece improvável que a performance do setor vai melhorar muito no futuro próximo, já que as seguradoras não conseguem isolar seus negócios dos rumos da economia.

“Nossa expectativa é que 2023 vai ser muito parecido com 2022, com um crescimento muito baixo dos prêmios devido aos problemas políticos e econômicos,” diz ele.

Em julho passado, a agência de ratings AM Best mudou a tendência para o mercado segurador peruano para negativo, e parece improvável que a qualificação vá mudar nos próximos meses, segundo o analista Eli Sánchez.

“A incerteza política que tem impactado o Peru desde 2020 está afetando a recuperação do setor. Isso é algo que realmente preocupa o mercado,” explica o analista.

Sánchez observa que as seguradoras vinham em um momento positivo no começo de 2022, quando os aumentos de sinistros ligados ao período posterior à pandemia começavam a perder força em segmentos como os seguros de automóveis. As indenizações ligadas à pandemia também estavam em queda, ao mesmo tempo que aumentava a demanda por seguros coletivos comprados pelas empresas.

Mas os fundos de pensões, que constituem uma parte importante do mercado, tiveram dificuldades para arcar com decisões do governo de autorizar que os trabalhadores utilizassem recursos de seus planos de aposentadoria para ajudar a se recuperar dos efeitos da pandemia. Tais medidas alimentaram dúvidas sobre a sustentabilidade do sistema privado de pensões no longo prazo.

No caso dos seguros de automóveis, a escalada da inflação no Peru e em outros países fez disparar os preços das peças de reposição, aumentando os custos dos sinistros. Por outro lado, os portfólios de investimentos das seguradoras e fundos de pensão foram beneficiados pelas altas das taxas de juros.

Segundo Sánchez, porém, os protestos que tomaram conta do país no final de 2022 causaram sérias perturbações às atividades de empresas de setores vitais para a economia peruana, como a mineração, o que aumentou os temores com um aumento de sinistros de coberturas como conflitos sociais, terrorismo e lucro cessante.

“Pode haver um aumento de preços dos seguros e possivelmente uma redução do apetite de risco por parte das seguradoras internacionais,” acredita Sánchez.

Como resultado, grandes compradores de seguros podem ter dificuldades para encontrar as capacidades que necessitam em alguns ramos de seguros nas próximas renovações. Algo parecido já aconteceu em mercados que enfrentaram convulsões sociais nos últimos anos, como o Chile e a Colômbia.

Moron acredita, porém, que o caso peruano é diferente dos de seus vizinhos andinos, ao menos no que se refere à exposição do mercado de seguros a sinistros ligados aos distúrbios sociais.

“Qualquer estrangeiro que vê as manifestações imediatamente as compara com as que ocorreram no Chile e na Colômbia, mas aqui elas são menos urbanas,” diz o presidente da Apeseg. “Elas acontecem em cidades menores, e por isso não geram a mesma sensação de risco ou uma maior demanda por coberturas contra danos causados por vandalismo.”

No entanto, a incerteza também está afetando setores como a construção civil, que exerce um forte impacto não apenas no mercado de seguros, já que a demanda por apólices de seguro de construção está em queda, mas também sobre os níveis de emprego e o poder de compra das famílias peruanas. A demanda por seguros de saúde, que havia aumentado com a pandemia, começou a perder fôlego na medida em que as famílias precisam focar seus orçamentos domésticos nos gastos mais essenciais.

“Isso tudo faz com que uma série de produtos de seguros fiquem sem um impulsor de demanda,” afirma Moron.

O presidente da Apeseg crê, porém, que a situação deve se estabilizar nos próximos meses. Ele acredita que a economia deve voltar a registrar no ano que vem taxas de crescimento próximas a 4%, o que estaria mais em linha com a história recente do país. Se este realmente for o caso, o mercado de seguros deve se beneficiar também.

Mas a expansão dos baixos níveis de penetração dos seguros no mercado peruano ainda deve levar um tempo e exigir uma dose extra de esforço por parte das seguradoras. Ana Morales, uma sócia da consultoria Boston Consulting Group (BCG) em Lima, afirma que as seguradoras peruanas ainda precisam encontrar os canais de distribuição mais eficientes para chegar a novos clientes, além de desenvolver produtos mais adequados às suas necessidades.

“As seguradoras estão no caminho certo, mas ainda não chegaram lá,” diz ela.

O universo de clientes em potencial inclui jovens consumidores, trabalhadores independentes e pequenas e médias empresas. Os dois primeiros grupos podem ser acessados através do processo de digitalização do setor, que ganhou novo fôlego durante a pandemia. Já as PMEs demandam que o mercado preste uma maior atenção a suas necessidades específicas.

“Apesar de ser um setor tão importante, as seguradoras ainda não possuem uma oferta clara para as PMEs. Por exemplo, ainda não existem no Peru os produtos multi-risco que são comuns em outros países,” diz Morales.

Ademais da digitalização, as seguradoras peruanas também precisam buscar parcerias com organizações que possuem uma ampla presença no território nacional. Tais parcerias podem ajudá-las a reduzir os custos de distribuição e a ter acesso a uma grande quantidade de dados sobre clientes em potencial. Um exemplo seriam os bancos peruanos.

“Diferentemente do que acontece na Europa, os bancos peruanos ainda trabalham com empréstimos que lhes obtêm margens elevadas, e por isso não vêm o ingresso no mercado de seguros como algo urgente. Mas há algumas iniciativas nessa direção,” observa Morales.

Para que os investimentos necessário para disseminar a presença dos seguros ocorram, porém, é necessário que as empresas do setor estejam confiantes a respeito dos rumos que o país está tomando.

“Em toda a América Latina, o capital tende a ser bastante tímido. Os investidores querem negócios na área dos seguros que já funcionam há vários anos e por isso não participam de muitas iniciativas para aumentar a penetração dos seguros,” afirma Sánchez.

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